Primeira promessa: não ser amigo de pessoas com as
quais você não tem a menor satisfação em trocar ideias. Por exemplo:
gente que acha que o Hitler era de esquerda; gente que vibra com a morte
ou doença de alguém ( mesmo sendo o Hitler!); gente que manda você se
informar melhor quando você discorda da opinião dela ( mesmo que a
opinião seja a de que o Hitler era de esquerda); gente que fica
dividindo todo mundo em “esquerda” e “direita”. E coloca o Hitler na
esquerda.
Segunda promessa: não terminar de ler livros que eu
leio sem saber por que estou lendo. Há livros que quando você pega não
consegue largar. Outros livros, quando você larga não consegue mais
pegar. Prometo deixa-los no lugar onde caírem.
Terceira promessa: não almoçar nem jantar com
pessoas que se referem à refeição como “calorias”, “benefícios”, “
antioxidantes”, “betacaroteno” e outras denominações que tiram o apetite
de qualquer um.
Quarta promessa: não planejar viagens para destinos
turísticos, daqueles que estão na lista dos lugares que você não deve
morrer sem visitar. Aliás, listas de coisas que você deve fazer ou
visitar antes de morrer são de matar.
Quinta promessa: recusar bebida ruim, comida ruim,
roupa ruim, filme ruim ( conversa ruim e livro ruim já foram citados),
sem remorso ou constrangimento. Ficar dando desculpa quando o que você
está fazendo é simplesmente defender sua ética/estética de vida é
indesculpável. Um “não, obrigado” funciona melhor e é mais elegante do
que um “nem obrigado”.
Sexta promessa: não dar opinião quando não se tem
opinião sobre algo ou quando não se pensou suficiente sobre o assunto.
Há tanta opinião na rede como o lixo nos oceanos: incomoda, é feio e
mata os peixes.
Sétima promessa: cultivar amigos e amores. Cultivar
no sentido etimológico da palavra, referente ao seu aspecto agrícola, de
preparar, semear, esperar, cuidar, colher e fruir.
Oitava promessa: ouvir sempre que possível os
jovens. Esse negócio de que jovem é alienado e não quer saber de
melhorar o mundo é incrível. Principalmente quando lembramos que o mundo
no qual eles vivem foi “estragado” por quem?
Nona promessa: andar muito pela cidade. Conhecer as
ruas do centro, dos bairros, as pracinhas, os parques, as bancas de
jornal, os terminais de ônibus. É a melhor forma de entender a
importância de se preservar e ampliar o espaço público. E faz bem pra
saúde do andarilho.
Décima promessa: nunca mais escrever um texto
prometendo dez coisas para o ano novo. Nove está ótimo. E sempre dá pra
dizer “noves fora, zero.” Ou não. Bom 2017.
Daniel Medeiros
* Daniel Medeiros é Doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor do Curso Positivo.