Cerca de 540 mil estudantes de 15 anos em 70 países participaram do
exame, realizado a cada três anos pela Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).
"As provas não só avaliam se o
estudante pode reproduzir os conhecimentos adquiridos, mas se é capaz de
ir além do que aprendeu e aplicá-los em situações pouco familiares e
fora da escola", diz o comunicado do Pisa.
Isso requer a habilidade de "explicar fenômenos científicos, interpretar dados e realizar experimentos."
Com
base nestes critérios de avaliação, Cingapura ficou em primeiro lugar
nas três disciplinas avaliadas: Ciências, Matemática e Leitura.
O
Brasil obteve posições baixas em todas elas, com um desempenho inferior
à avaliação de 2012, e abaixo da maioria dos países da América Latina
que também fizeram parte do teste: foi o 59º em Leitura, 63º em Ciências
e 65º em Matemática.
Já Cingapura ganhou posições nas três. Em 2012, havia sido o segundo em Leitura e Matemática e o terceiro em Ciências.
Mas
o que explica esse excelente desempenho dessa ilha-Estado do Sudeste
asiático? Brandew Jeffreys, editora de Educação do site da BBC, foi até
lá conferir. Confira seu relato:
"Se você pensa que Matemática é difícil, não vai conseguir aprender", diz Hai Yang, de 10 anos.
Junto
a outros alunos da turma 4D da escola primária Woodgrove, ele está
explicando as aulas da disciplina que eu estava acompanhando.
A
classe trabalhava em um problema. Os estudantes se revezavam,
levantando-se para dizer como haviam resolvido a questão. E faziam isso
em inglês, uma das diversas línguas faladas em Cingapura.
No fim
das contas, havia mais de uma solução correta. O mais impressionante era
sua dedicação para entender exatamente como fazer isso.
"Se
apenas copiarmos a resposta dada pelo professor, quando crescermos
talvez a gente não saiba mais como resolvê-lo", diz outra aluna, Megna.
Fundamentos
Trata-se
de uma abordagem conhecida como Domínio da Matemática, usado também em
escolas da China e que vem sendo adotado em algumas instituições de
ensino de outros países, como o Reino Unido.
Essa é apenas uma parte de uma história de sucesso que despertou o interesse do mundo.
Cingapura
se beneficia de ter um sistema escolar enxuto, no qual professores são
reunidos no Instituto Nacional de Educação para serem treinados.
Seu
diretor, Tan Oon Seng, me disse que o instituto recruta professores com
base no seu grau de conhecimento das disciplinas, e é esperado que eles
garantam que cada criança compreenda os elementos básicos do ensino.
"Em Cingapura, acreditamos em fundamentos. Para que
uma criança seja bem educada, ela precisa aprender a linguagem e
gramática de várias matérias, uma linguagem com a qual sejam capazes de
ler, uma linguagem com a qual possam entender os números."
Cingapura
também tem ensinado bastante sobre como tornar a profissão de professor
uma atividade recompensadora. É algo que confere status, porque a
competição para tornar-se um mestre é grande.
Professores
podem seguir uma carreira que os leva a se tornarem diretores,
pesquisadores em Pedagogia ou um grande especialista em salas de aula.
Eles têm tempo para aprofundar seus conhecimentos e preparar as lições.
Criatividade
Mas
Cingapura não está acomodada em sua posição de prestígio. Em duas
escolas de ensino médio, testemunhei tentativas de tornar o aprendizado
mais criativo.
No colégio Montfort, adolescentes são encorajados a
fazer protótipos de produtos que vão desde um sistema para regar
jardins a um teclado eletrônico.
Usar habilidades científicas e
matemáticas para resolver problemas do mundo real é exatamente o tipo de
capacidade que o Pisa foi criado para avaliar.
No Montfort, uma
sala vazia está sendo transformada em um "laboratório de inventores".
Ferramentas simples e diversos materiais estão disponíveis para que
alunos os usem no tempo livre e criem coisas que podem levar para casa.
Se quiserem entender como iluminar seu violão com lâmpadas de LED, é ali que aprenderão isso.
"Queremos
que o aprendizado esteja ligado à realidade do dia a dia, para que isso
melhore a experiência não apenas em Ciências, mas em outras áreas", diz
o professor Ricky Tan Pee Loon.
Outro aspecto que chama atenção
na educação em Cingapura é que diretores mudam de escola a cada seis ou
oito anos. Também há uma grande ênfase na colaboração.
Khoo Tse
Horng, diretor da escola St. Hilda, diz que o modo de trabalho dos
professores também é diferente. Quando ele começou a dar aulas, o mais
comum era ser acompanhado por um mentor mais experiente.
"Hoje, os professores trabalham em equipe, crescem juntos, pesquisam juntos, trabalham juntos."
Concorrência
Mas a principal colaboração para o sucesso de Cingapura talvez venha dos pais dos estudantes.
O
sistema é competitivo, e um exame ao fim do primário influencia se a
criança conseguirá uma vaga na escola que pretende frequentar na próxima
etapa.
No ensino médio, os estudantes têm um currículo acadêmico
"expresso" e outro normal, que os leva a obter um diploma técnico ou
vocacional.
Então, às 20h de uma certa noite, acompanho crianças
de até 4 anos estudando matemática usando ábacos (instrumentos antigos
de cálculo). Lucas, de 6 anos, parece tranquilo ao correr contra tempo
para resolver uma série de problemas.
Seus pais, Eric e Nicole
Chan, me dizem que trazem os filhos para uma hora de aula adicional para
que eles ganhem uma confiança extra.
Há um lado negativo,
retratado em um filme recente feito por voluntários da agência
publicitária Splash, de Cingapura, em que uma menina fica deprimida e
estressada na preparação para seu exame ao fim do primário.
Jerome
Lau, um dos diretores da Splash, diz que se inspirou na experiência de
um amigo. "É injusto começar a julgá-los e rotulá-los. Toda criança tem o
potencial de se dar bem na vida."
O sistema de Cingapura está
mudando, em parte por conta do reconhecimento que a concorrência é alta.
Então, alterações estão sendo implementadas na forma como a notas são
publicadas e usadas para classificar os alunos.
É um sistema que reconhece algumas de suas falhas, mas segue comprometido em permanecer entre os melhores do mundo.