O trabalhador brasileiro sofreu a maior queda de salários em
termos reais entre os países do G-20 em 2016 e, em 2015, já esteve entre
as três nacionalidades que mais perderam em todo o mundo.
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 15, pela
Organização Internacional do Trabalho (OIT), num levantamento publicado
apenas a cada dois anos sobre o comportamento dos salários pelo mundo.
De acordo com a entidade, a queda no salário real do brasileiro neste
ano deve ser de 6,2%. Em 2015, a perda foi de 3,7%.
Desde 2012, os números da renda do brasileiro apresentavam um
certo crescimento, ainda que abaixo da média mundial. Considerando
inflação, o poder aquisitivo do brasileiro aumentou em 4% em 2012, 1,9%
em 2013 e 2,7% em 2014.
Em termos nominais, a OIT usa dados do IBGE para mostrar que os
valores foram de R$ 1,9 mil em média por mês em 2013, R$ 2 mil em 2014 e
R$ 2,1 mil em 2015.
Já no ano passado, apenas a Rússia e Ucrânia haviam apresentado
uma queda mais acentuada que a do Brasil em termos reais. Os dois países
viviam ainda os ecos de um conflito armado e sanções. Mas, neste ano
registraram estabilização nos salários.
No caso do trabalhador brasileiro, a crise se aprofundou ainda
mais neste ano. “Os números que estamos vendo não são nada
encorajadores”, disse Deborah Greenfield, vice-diretora da OIT. Para a
entidade, o cenário aponta para uma nova queda em 2017.
Segundo a representante da OIT, um dos impactos mais imediatos na
queda dos salários no Brasil deve ser a redução do consumo na economia
e, claro, na demanda agregada. “A desaceleração de renda tem um impacto
muito grande em famílias e isso vai ser sentido em toda a economia”,
alertou. “Os ganhos dos últimos anos podem sofrer uma erosão”, disse.
Na avaliação dos especialistas da OIT, os dados brasileiros
sugerem que a recuperação do crescimento da economia poderá levar mais
tempo que se imagina, diante da perda do poder aquisitivo da população
durante pelo menos dois anos.
Patrick Belser, autor do informe, também destaca a queda
“dramática” do salário no País. A recessão e a queda nos preços de
commodities influenciaram. “A redução continuou em 2016 e a demanda
agregada também vai sofrer”, disse.
De acordo com a OIT, o resultado negativo do Brasil teve um
impacto até mesmo na média salarial na América Latina, com a região
registrando uma queda de 1,3% em 2015.
Nos grandes países emergentes, o que se viu foi uma desaceleração
da expansão dos salários. Ainda assim, eles continuaram a aumentar. Em
2012, essas economias viam seus salários reais aumentar em 6,6%. Para
2015, a taxa foi de 2,5%.
Outro alerta da OIT se refere ao impacto na desigualdade social.
“Estudos mostram que o aumento de salários ajuda a combater
desigualdades”, constatou Greenfield. “Não estamos vendo combate à
desigualdade. Mas o contrário”, alertou. Ainda que o Brasil tenha
reduzido seus índices de injustiça social, com o aumento do salário
mínimo, a OIT insiste que o País continua sendo um dos mais desiguais do
mundo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.