Estoicismo: A calma no meio do caos


Como viver uma "boa vida" em um mundo imprevisível? Como fazer o melhor dentro das nossas possibilidades aceitando, ao mesmo tempo, o que está fora do nosso controle?
Essas são as questões centrais do estoicismo, filosofia criada há mais de 2 mil na qual cada vez mais pessoas buscam, hoje, antídotos para as dificuldades da vida contemporânea.
O estoicismo pregava o valor da razão, propunha que emoções destrutivas eram resultado de erros na nossa forma de ver o mundo e oferecia um guia prático para nos mantermos resolutos, fortes e no controle.

A escola estóica teve profunda influência na civilização grecoromana e, por consequência, no pensamento ocidental como um todo - e foi mais além. Ela está presente no cristianismo, no budismo e no pensamento de diversos filósofos modernos, como o alemão Immanuel Kant, além de ter influenciado a técnica contemporânea de psicoterapia chamada Terapia Cognitivo-Comportamental.
Hoje, adeptos ou curiosos podem "passar uma semana vivendo como estóicos", participar de conferências, integrar grupos de estóicos no Facebook, ouvir podcasts de todos os cantos do mundo, comprar livros sobre o tema e aprender como as práticas e o pensamento estóico podem ser aplicados nos esportes, nos negócios e na política.

Três pérolas de sabedoria de Epiteto - escolhidas por filósofos entrevistados pela BBC

1. "Se devo morrer, morrerei quando chegar a hora. Como, ao que me parece, ainda não é a hora, vou comer porque estou com fome."
"O que Epiteto está querendo dizer aqui é que "o que tiver de ser será. Mas se não tenho de lidar com isso agora, vou fazer outra coisa". Massimo Pigliucci, filósofo italiano e praticante do estoicismo hoje.
2. "Você não é aquilo que finge ser. Então, reflita e decida: isso é para você? Se não for, esteja pronto para dizer: para mim, isso é nada. E deixe o assunto de lado."
"Deixe para trás as coisas que não estão sob o seu controle e tente trabalhar duro naquilo que você pode controlar." Nancy Sherman, filósofa americana que estuda a influência do pensamento estóico sobre a ética militar.
3. "Não espere que o mundo seja como você deseja, mas sim como ele realmente é. Dessa forma, você terá uma vida tranquila."
"Para quem vê conformismo nessas palavras, uma ressalva: eles não estão propondo que você seja passivo em relação à vida, mas que aceite as coisas que estão além do seu controle e que já aconteceram", diz o filósofo e psicoterapeuta escocês Donald Robertson.

História do Estoicismo

O estoicismo foi fundado no século 3 a.C. por Zeno, um rico mercador da cidade de Cítio, no Chipre.
Após sobreviver a um naufrágio em que perdeu tudo o que tinha, Zeno foi parar em Atenas. Ali, conheceu as filosofias de Sócrates, Platão, Aristóteles e seus seguidores.
"Ele se deu conta de que existia um mundo não material que era mais previsível e controlável do que o mundo que ele tinha como mercador. Abraçou as ideias daqueles filósofos e passou a viver uma vida simples e fundou sua própria escola filosófica", disse Sherman.
Os primeiros estóicos criaram uma filosofia que oferecia uma visão unificada do mundo e do lugar que o homem ocupava nele. O pensamento era composto de três partes: ética, lógica e física.

O estoicismo propunha que os homens vivessem em harmonia com a natureza - o que, para eles, significava viver em harmonia consigo próprios, com a humanidade e com o universo. Para os estóicos, o universo era governado pela razão, ou logos, um princípio divino que permeava tudo. Portanto, estar em harmonia com o universo significava viver em harmonia com Deus.
A filosofia estóica também propunha que os homens vivessem com virtude, um conceito que, para eles, estava intimamente associado à razão - como explica o filósofo Donald Robertson.
"Se pudermos viver com sabedoria, guiados pela razão, vamos florescer e realizar nosso potencial como seres humanos. Deus nos deu essa capacidade, cabe a nós usá-la de maneira apropriada", diz ele.