CORONAVÍRUS: Igreja evangélica promete 'imunização' com bênção e pode ser enquadrada por charlatanismo
Nas redes sociais, a Igreja Catedral Global do Espírito Santo,
autoproclamada "Casa dos Milagres", ligada ao Centro de Avivamento para
as Nações, anunciou um culto chamado "O Poder de Deus contra o
Coronavírus".
Na descrição, a igreja pede que fiéis venham à
igreja "porque haverá unção com óleo consagrado no jejum para imunizar
contra qualquer epidemia, vírus ou doença".
O culto foi transmitido ao vivo por redes sociais no domingo (01/03) e
conduzido pelo autoproclamado profeta Sílvio Ribeiro, responsável pela
igreja, que declarou "Epidemia de coronavírus, fora!", embalado por uma
banda que tocava músicas gospel.
"Diante da doença e da
possibilidade de morte, é comum o ser humano se sentir desesperado e
desamparado", disse por meio de nota a promotora Angela Rotunno,
coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa dos Direitos
Humanos do Ministério Público do Rio Grande do Sul.
"Essa fragilidade emocional afasta a racionalidade e traz, como
consequência, a facilidade em acreditar em qualquer promessa de proteção
ou cura. É o que está acontecendo no momento. Pessoas inescrupulosas
tentam obter vantagem desse desalento", continuou a promotora.
O
Brasil, de acordo com boletim do ministério da Saúde divulgado no
domingo, registra 252 casos suspeitos da doença e duas confirmações. A
primeira se refere a um homem de 61 anos, de São Paulo, que voltou de
viagem à Itália e passa bem em quarentena domiciliar. O segundo tem 32
anos e também viajou da Itália a São Paulo.
Procurada pela BBC News Brasil, a Secretaria de Saúde do Rio Grande
do Sul afirmou, por meio de um porta voz, que recebeu uma série de
denúncias sobre as promessas da igreja.
"A melhor resposta é a Ciência", afirmou a secretaria.
"Entendemos
que a maneira mais efetiva de responder a esse episódio é divulgar
medidas cientificamente comprovadas de prevenção, como vínhamos fazendo e
continuamos desde antes da primeira confirmação da doença no Brasil.
Orientamos as pessoas a seguirem as orientações do Ministério da Saúde e
da Organização Mundial da Saúde (OMS), que usam como referência a
Ciência como melhor forma de combate ao coronavírus."
Nos perfis da igreja em diferentes redes sociais, fiéis agradeceram aos pastores afirmando que "a unção é forte e para sempre".
Também houve uma série de críticas pedindo até o fechamento da igreja pela polícia por "falsas promessas".
Além
de citar possíveis crimes de charlatanismo ou curandeirismo, a
promotora Rotunno também afirmou que a conduta pode ser enquadrada em
outros crimes.
"Se houver alguma percepção de vantagem
remuneratória, também essa falsa promessa pode vir a fortalecer o crime
de estelionato, pois se estaria utilizando de um meio fraudulento para
obter proveito ilícito. Na área cível, da mesma forma, é possível que
as pessoas que se sentirem prejudicadas busquem a devida indenização
remuneratória por eventual custo com deslocamento ou pagamento de
dízimo", afirma.
O MP do Rio Grande do Sul informa ainda que
encaminhou os anúncios "para as Promotorias de Justiça Criminais, de
Proteção à Saúde e às Promotorias de Justiça Cíveis, para a verificação
do tipo de conduta e eventuais consequências legais".
Como se proteger
A
principal recomendação de profissionais de saúde que acompanham o surto
é simples, porém bastante eficiente: lavar as mãos com sabão após usar o
banheiro, sempre que chegar em casa ou antes de manipular alimentos.
O ideal é esfregar as mãos por algo entre 15 e 20 segundos para garantir que os vírus e bactérias serão eliminados.
Se
estiver em um ambiente público, por exemplo, ou com grande aglomeração,
não toque a boca, o nariz ou olhos sem antes ter antes lavado as mãos
ou pelo limpá-las com álcool. O vírus é transmitido por via aérea, mas
também pelo contato.
Também é importante manter o ambiente limpo,
higienizando com soluções desinfetantes as superfícies como, por
exemplo, móveis e telefones celulares.
Para limpar o celular, pode-se usar uma solução com mais ou menos metade de água e metade de álcool, além de um pano limpo.
Medidas
como essas valem mais até do que usar máscara, dependendo da situação. A
infectologista Rosana Richtmann ressalta que os brasileiros não têm uma
cultura de usar máscaras de proteção — muitas vezes, nem sabem
colocá-las adequadamente.
"É capaz de se transformar em uma falsa sensação de segurança", diz ela.